Em tempos de Ozempic e Mounjaro, quem ousa ter um corpo gordo? 2y1635

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11/06/2025 14h06 - Atualizado há 2 dias

Em tempos de Ozempic e Mounjaro, quem ousa ter um corpo gordo?

Tem coisa mais subversiva hoje do que existir num corpo gordo… e estar bem com isso?

Do alto dos meus 140 kg, ouso dizer que não! É quase um ultraje às normas sociais não se render às canetas milagrosas (Deusas, segurem minha mão pra eu não fazer um trocadilho sobre a caneta que vos escreve este texto) e seguir habitando um corpo fora do padrão, ou seja, gordo.

O tema, foi, inclusive, esquete do Porta dos Fundos recentemente, e eu só lamento por uma coisa: não ter viralizado o quanto poderia, já que pega na veia da compulsão pelos corpos idealmente magros.

Eu sou uma mulher gorda e, não fosse a gordofobia cotidiana e o emagrecimento compulsório, estaria muito bem com isso. Posso dizer que estou apenas bem. E fazendo a minha parte, que é convidar pessoas a discutirem sobre o tema, numa recusa ao que dizem ser o único caminho da felicidade: o da magreza, o do milagre das canetas, da bariátrica ou, ainda, da ‘força de vontade’ de malhar e comer bem diariamente (como se eu não fizesse isso, mesmo em meio a uma dezena de lutos - sem exagero - que venho enfrentando nos últimos tempos).

Às vezes penso que serei a última mulher gorda do mundo. Mas aí lembro que temos Virgie Tovar e suas discussões todas acerca disso. Que inclusive podem ser lidas aqui na newsletter dela.

Não falo de aceitação performática para engajamento, nem de um “me amo apesar de tudo” sussurrado entre stories de marmita fit. Falo de olhar o próprio corpo, com todas as suas camadas, curvas, dobras e histórias, e não desejar que ele seja outro.

Vivemos tempos farmacêuticos. A era do “corre pra farmácia que chegou o Mounjaro” e do “Ozempic salvou meu verão”. O desejo por corpos magros nunca foi tão medicado, higienizado e disfarçado de autocuidado. Mas a quem serve essa urgência? E, mais ainda: o que acontece quando alguém simplesmente decide… não?

É sobre isso que vamos conversar na roda “Meu corpo, minhas medidas”, comigo, Jéssica Balbino, e com a pesquisadora Néli Simioni, do projeto Meu Corpo Sou Eu. Um encontro para discutir corpo, desejo, saúde e controle - a partir do provocante livro da Virgie Tovar.

Porque Tovar fala de infância e vergonha, de dieta como religião e de como a cultura da magreza é o novo verniz do sexismo. Ela chama a dieta do que ela é: um feminicídio silencioso e assistido, vendido em cápsulas, aplicativos e elogios disfarçados de preocupação.

“Você tem o direito de permanecer gorda, ela diz”. E a gente repete.

Esse encontro não é sobre ter respostas prontas. É sobre abrir espaço para perguntas urgentes: Quem decide o que é um corpo saudável? Quem lucra com a nossa culpa? Qual o custo de viver em guerra com o espelho? E o mais importante: como seria amar um corpo sem tentar diminuí-lo?

E a pergunta que fica é: em tempos de Ozempic e Monjauro, você permaneceria gorda?

Por Jéssica Balbino - Jornalista

FONTE: FONTE: Jéssica Balbino - [email protected] - FOTO: Michelle Veloso